sexta-feira, 30 de março de 2012

AS DUAS FACES DO HOMEM


O MAL
 
O BEM E O MAL NUMA VISÃO JUNGUIANA

 “O Mal é o oposto necessário do Bem, sem ele não existiria o Bem. Não podemos prescindir do Mal.” (Carl Gustav Jung, 2000, O. C., Vol. IX-1, § 567).

Apesar de toda reação adversa que costumamos ter diante da simples menção ao Mal (com M maiúsculo), não seria possível falar sobre a História da Humanidade sem nos referirmos ao Mal tanto quanto ao Bem. Esses conceitos encontram-se bem claros em narrativas da literatura, figuras, mitos, contos, religiões de todos os tempos e lugares, mostrando o quanto separamos os dois em nossas vidas e a eterna luta que criamos entre essas duas forças inerentes ao Cosmos e à natureza humana.
Em princípio, a idéia do Mal já nos incomoda, portanto, referir-se ao Mal, seja no sentido mais amplo, seja sobre o mal em cada um de nós, será sempre uma tarefa difícil e dolorosa, sem deixar de ser fascinante por envolver nossas emoções mais profundas e seus reflexos no mundo em que vivemos. No entanto, da mesma forma que indagamos de onde viemos, qual é a nossa origem e a de tudo que nos cerca, fatalmente buscamos a  origem da maldade. A que se deve sua existência? No temor dessa resposta existe a culpa. O que fizemos para merecer o Mal em nosso mundo e, principalmente, em nós mesmos?  A vivência do mal é algo que acontece a todos nós, indiscriminadamente, seja por experiências pessoais ou coletivas estamos sempre entrando em contato com situações ditas maléficas e nos sentimos freqüentemente receosos e impotentes diante delas. Discutir esse assunto para  melhor entendê-lo, buscar respostas e possíveis soluções é uma tentativa de aplacarmos nossa angústia humana diante de forças desconhecidas e aparentemente incontroláveis.
Dentre as pessoas que pensaram e levantaram questões sobre esse tema, ninguém o fez de maneira tão profunda e abrangente como o psiquiatra C. G. Jung, até porque, além de psiquiatra, ele foi, antes de mais nada, alguém interessado nos mistérios da vida e do espírito. Assim,  praticamente em quase toda a sua obra, Jung referiu-se à idéia do Bem e do Mal, e o fez de forma inovadora e criativa, pois, para ele, esses dois conceitos representam um par de opostos dos mais importantes para o equilíbrio do nosso mundo psíquico, físico e espiritual. De acordo com ele, jamais podemos negar a existência do mal, seja por medo de enfrentá-lo ou pela tola presunção de que este não poderá nos atingir. Assim falou Jung, do seu jeito muitas vezes irreverente:
“Só o homem infantil é capaz de pensar que o mal não está presente sempre e em toda parte, e quanto mais inconsciente estiver disto, tanto mais o diabo lhe subirá na garupa.” (O. C., Vol. IX - 2, § 255)
Ele afirmava que, por fazer parte da nossa natureza, o mal não pode ser evitado, mas podemos entendê-lo e convivermos com ele sem prejuízo para nós e para o mundo que nos rodeia.


“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade,
Tanto horror perante os céus?!...”
(Castro Alves, Poesias Completas, pág. 136)

Os versos do poeta baiano são muito significativos para expressar como deveria ser o nosso assombro diante do que temos assistido de maldades e violências em nosso mundo atual.
Devemos indagar o que acontece com o Homem atual para permanecer, até hoje, preso às repressões e possessões que não lhe permitem perceber a si mesmo e ao outro em sua totalidade. Mal e Bem nos habitam e nos conduzem ao dualismo e à dissociação do homem moderno o qual, com o passar do tempo, tem cada vez menos noção de como lidar com esses dois lados da sua natureza. O homem primitivo tentava amenizar a sua angústia fazendo oferendas e sacrifícios sangrentos aos deuses, imaginando que assim aplacaria a ira deles. Hoje nos horrorizamos com as atitudes dos povos primitivos mas, sem percebermos, as repetimos, de forma inconsciente e, muitas vezes, mais cruel e inexplicável, pois deveríamos, teoricamente, ter uma noção clara do que estamos fazendo. O que, na prática, não tem acontecido.
Já dizia Jung (1944), sobre nossa inconsciência, nas guerras do século XX:
“Há coisas mais horríveis, isto é, a loucura dos homens, as grandes epidemias mentais, sob as quais nós todos sofremos hoje...Com fatalidade infernal, as nações trabalham em prol da guerra e da incompreensão. Nem o mais modesto desarmamento foi possível até agora... É curioso que as pessoas continuem tão inconscientes para conhecer os perigos que na verdade as ameaçam.” (Jung C G, Cartas, pág. 347)

Sabemos que maldades da pior espécie assolam o nosso planeta desde os primórdios dos tempos, que sempre existiram crueldades sem limites entre todos os povos de todas as raças, que algumas religiões antigas praticavam barbaridades, inclusive a dos gregos, um povo já mais desenvolvido em vários aspectos e que, no entanto, também oferecia sacrifícios humanos para seus deuses. As Cruzadas cristãs foram de uma violência extrema. Guerras terríveis aconteceram em todas as eras passadas.
As causas externas desses conflitos parecem poder explicar tudo: diferenças políticas, brigas religiosas, lutas pelo poder, por terras, riquezas as mais diversas, ou, num passado mais remoto: o primitivismo, o irracionalismo, a ignorância, pouca evolução moral, ética e espiritual.
No entanto, estamos no início do Século XXI e continuamos nos deparando com atitudes humanas as mais irracionais, apesar de todo o nosso atual desenvolvimento nos campos técnico e científico.
Jung comenta sobre isso numa das entrevistas dele após a Segunda Guerra Mundial, quando lhe foi perguntado se, com o final da guerra, os demônios que os alemães carregavam haviam sido banidos e um mundo novo e melhor surgiria das ruínas. Ele respondeu:
Não, os demônios não foram banidos, essa é uma tarefa difícil que ainda está por realizar. Agora que o anjo da história abandonou os alemães, os demônios procurarão uma nova vítima. E isso não será difícil. Todo homem que perde sua sombra, toda nação que cai no farisaísmo, é presa deles. Amamos o criminoso e alimentamos um interesse candente por ele, simplesmente porque o demônio nos faz apenas ver o argueiro no olho do nosso irmão e desse modo nos burla. Os alemães recuperar-se-ão quando admitirem a sua própria culpa e a aceitarem; mas os outros serão vítimas da possessão demoníaca se, em seu horror perante a culpa alemã, esquecerem suas próprias deficiências morais. Não devemos esquecer que exatamente a mesma tendência fatal para a coletivização está presente nas nações vitoriosas tanto quanto na Alemanha, e que elas podem tornar-se subitamente vítimas dos poderes demoníacos. A “sugestionabilidade geral” desempenha hoje um papel tremendo na América...” (Entrevistas e Encontros, pág. 147/148).

Sanford (1988) faz uma avaliação semelhante a essa, quando comenta as atrocidades cometidas pelos adversários durante as diversas guerras em nosso mundo:
“Porque o mal é contagioso. Dificilmente alguém se aproxima do mal sem ficar contaminado e afetado por ele ...” (Mal, o Lado Sombrio da Realidade, pág. 138)

Não há, aqui, nenhuma intenção de fazer uma avaliação maniqueísta, muito pelo contrário, o mais importante é ressaltar a dualidade que existe em tudo no mundo e, principalmente, no ser humano. O que interessa, neste caso, é notarmos que, num conflito armado e cruel, os dois lados agem como terroristas, cada um a seu modo, e em grande parte inconscientes da maldade de seus atos. Dessa forma continuam odiando-se e sentindo-se vítimas do inimigo, sem jamais perceberem que estão tentando atacar seus próprios demônios refletidos no oponente. Todos encontram-se possuídos pelo mal que vêem no outro, mergulhados na sombra coletiva.
Marie Louise Von Franz, a mais antiga discípula de Jung, referindo-se à sombra coletiva, disse que esta se revela, principalmente, nas guerras e nos ódios entre as nações, e conclui: “A sombra coletiva é particularmente ruim, porque cada um apóia o outro em sua cegueira.”
Cegueira que mostra estar muito longe de se realizar em nós, a promessa feita pela serpente à Eva no paraíso. Na Bíblia, a serpente convence Eva a provar do fruto da Árvore do Conhecimento, prometendo a ela a consciência de algo que, até hoje, nos é vedado saber:  “Sereis como Deus, conhecendo o Bem e o Mal.” (Gênesis 1 - Cap. 3). Sobre esse texto, Jung replica:
 “Donde nos vem a crença de que conhecemos o bem e o mal? Só os deuses o sabem, nós não. Isto é extremamente verdadeiro, inclusive sob o ponto de vista psicológico. Se nossa atitude for esta: “Isto pode ser bem ruim ou também não”, então temos a chance de acertar. Mas se já temos certeza de antemão, então nos comportamos como se deuses fôssemos.” (Jung, O. C. vol. X – 3, § 862)
Além da nossa inconsciência, sempre que falamos do bem e do mal, nos deparamos com a questão da relatividade desses dois princípios. Não podemos afirmar, com certeza, que algo é bom ou mau em si. No entanto, sabemos o que é bom ou mau para nós, pelo menos no momento presente, mesmo que algum acontecimento desagradável possa, no futuro, nos parecer ter sido necessário por nos ter trazido algo de bom. É quando costumamos dizer que há males que vêm para o bem. Mas, sem dúvida, há controvérsias, e o que é bom para uma pessoa pode não o ser para outra, Jung comenta isso falando sobre o homem arcaico:
“Perguntado acerca da diferença entre o bem e o mal, um chefe negro deu essa resposta: “Se eu roubar a mulher de um inimigo meu, isso é bom; mas se ele roubar a minha, isso é mau”” (Jung, O. C. vol. X – 3,  § 108).

Mesmo moralmente discutível, essa atitude continua atual, fazendo parte do nosso egoísmo, da vontade de o nosso ego obter o que quer, de realizar todos os desejos sem levar em conta o sofrimento dos outros. Vemos assim que sofrimento, dor e tristeza são expressões que definem o mal, como a felicidade, o prazer e a alegria nos trazem o bem. Podemos, então, a partir desses sentimentos, separar os dois conceitos e reconhecer cada um deles, atribuindo-lhes um valor mesmo que subjetivo, mas que pode nos levar a valores mais universais quando avaliamos o Bem e o Mal em termos gerais e nos revoltamos contra a maldade no mundo.
Quando Jung, na década de 40 do século passado, referia-se às Primeira e Segunda Guerras Mundiais, demonstrava que o comportamento dos que delas participaram lhe parecia absurdo, dado o desenvolvimento que a humanidade alcançara. O que dizermos então do nosso momento atual, em que o ser humano continua a praticar toda espécie de crueldade?    Estamos em pleno Século XXI, continuamos nos desenvolvendo em todas as áreas, científica, técnica, cultural, com novas descobertas no campo da física, química, biologia. Fazemos inseminação artificial, nascem bebês de proveta, produzem-se clones de animais, usamos testes de DNA e criamos o Projeto Genoma, que mapeou o código genético humano, permitindo o conhecimento de todos os genes da raça humana. Os meios de comunicação estão cada vez mais desenvolvidos e evoluídos. As máquinas tornam-se mais sofisticadas a cada dia, construímos foguetes e promovemos viagens espaciais. Continuamos tentando descobrir de que é feita a matéria no seu nível mais elementar ou, como diziam os antigos filósofos gregos, a arché (princípio) de todas as coisas. Para isso foram criados os aceleradores de partículas, que atingem velocidades próximas à da luz e que, segundo alguns cientistas, entre eles o físico Sheldon Glashow, prêmio Nobel de Física em 1979:
“...podem gerar, como resíduo,  uma partícula denominada strangelet, que teria efeitos devastadores, com condições de engolir os núcleos atômicos, crescendo sem parar até consumir a Terra inteira” (Revista Terra, setembro de 2003)
Parecemos mais civilizados agora quando olhamos para o passado, achamos estarmos melhor no estágio em que vivemos. Vencemos doenças com vacinas, remédios, cirurgias, transplantes. Em compensação,  tomamos cada vez mais remédios e usamos todo tipo de drogas, para dormir, para ficar acordado, para acalmar, para animar, além de fumarmos e ingerirmos bebidas alcoólicas. Não admitimos mais sentir qualquer tipo de dor ou sofrimento físico ou psíquico, vivemos literalmente dormentes. Além disso, as drogas mais pesadas chegam a nós através do crime organizado, destroem vidas e incentivam outros crimes.
Por trás dessa decadência humana, encontra-se o pior dos males, o dinheiro, esse Deus que criamos, tirânico e devorador, que traz em si o germe do poder e da dominação. Aliás, somos  escravos de uma trindade terrível: Sucesso, Dinheiro e Poder. Para completar o quatérnio, temos o culto da Eterna Juventude, da necessidade do corpo perfeito e malhado, das plásticas e lipoaspirações, dos anabolizantes e dos seios artificiais. Não nos é permitido envelhecer sem nos sentirmos feios e ridículos. Se não envelhecemos, onde ficará o Velho Sábio? Vai virar sombra e nos restará um futuro de puer æternus (eterna criança).
As guerras atuais mostram o quanto ainda carregamos de ódios, ganância e rivalidades. Continuamos a praticar toda espécie de ações nocivas ao bem-estar da humanidade, geralmente em busca de ganhos materiais: mata-se, rouba-se, vende-se drogas, há exploração e prostituição de menores, jogos ilegais e corrupção. Ainda permitimos que exista fome e miséria no mundo. O ser humano parece não ter limites para atingir seus objetivos, passando por cima de todos os bons valores, ignorando todas as melhores virtudes que possuímos.
A Psicologia Analítica trata dos tipos psicológicos, que Jung dividiu em quatro funções psíquicas, são elas: pensamento, sentimento, sensação, intuição.
Em seu livro “O Lado Sombrio da Realidade”, John Sanford (1988) refere-se ao mal como necessário para incrementar a função sentimento e diz:
“Pode-se dizer que o mal no mundo ajuda a incrementar a função sentimento, se não existisse o mal, não haveria reações de sentimento. O mal é necessário para nos tornarmos completamente humanos.” (Pág. 20)

Parece pertinente a idéia de que o mal ajudou a desenvolver o sentimento em nossa natureza. Alguém com a função sentimento bem desenvolvida possui maior capacidade de avaliação e reação em geral e esse efeito vai mais além, levando-nos até a um maior desenvolvimento no mundo, pois o mal mexe conosco, toca-nos profundamente, nos mobiliza fazendo-nos reagir e lutar, enquanto o bem só nos apascenta, acalma e acomoda. Este é um tremendo paradoxo, com o qual precisamos conviver, o de que, em algumas circunstâncias, o mal pode ser destrutivo e construtivo ao mesmo tempo, que o mal pode trazer o bem. Sem esquecermos que, para funcionar dessa maneira, precisamos usar nossa função sentimento, buscando sempre ser mais atentos e humanos ao reagirmos ao que acontece à nossa volta.
 Se perguntarmos às pessoas por toda a face da Terra, se elas preferem o bem ou o mal, certamente a maioria dirá que prefere o bem. Há no ser humano um anseio, uma busca pelo bem, pela paz, pelo amor, como uma nostalgia do Paraíso Perdido. O próprio fato de tentarmos negar em nós, o que consideramos como sendo relacionado ao mal, denota o valor que conferimos ao bem. Todos querem ser considerados bons perante a sociedade.
Como se explica, então, desejarmos e valorizarmos o Bem e praticarmos o mal? Sequer percebemos que agimos assim, de forma tão irracional, porque achamos sempre que são as outras pessoas que agem mal, e aí encontra-se o perigo. Todos queremos que o bem venha ao nosso encontro, mas nem sempre queremos encaminhá-lo aos outros, e desse jeito, por não fazerem o circuito certo, as trocas não se completam. Cada um precisa fazer a sua parte, pois sabemos que, no final das contas, todos os acontecimentos, bons ou maus, que ocorrem em nossa sociedade, são consequência das ações humanas.
Isso nos traz a idéia da sombra e à necessidade de retornarmos  a nossa integridade perdida, unindo a consciência ao lado oculto da mente. A necessidade de sabermos que existem os processos inconscientes, tão vivos e atuantes quanto a nossa razão consciente, porém mais fortes por compreenderem todo um conteúdo que nos é desconhecido. Esse desconhecido reprimido e inferior, oculto por nós mesmos, essa sombra recalcada que projetamos nos outros, gerando  toda espécie de desentendimentos, neuroses e sofrimentos, é responsável por boa parte de nossas ações sem nos darmos conta disso. Tudo o que desconhecemos pode nos pegar de surpresa e provocar desastres de todo tipo.
A grande maioria de nós ignora possuir esse lado carregado de emoção, de sentimentos, em grande parte, fora do nosso controle. Eles podem surgir nos momentos de crise, vindos do inconsciente pessoal ou podem vir sob a influência do inconsciente coletivo. Não esqueçamos que um dia, no princípio de nossa existência humana, fomos totalmente irracionais, que a razão foi se desenvolvendo aos poucos e que a nossa mente faz parte desse mundo psíquico, de uma riqueza imensa de imagens inconscientes, algumas já reveladas, de forma simbólica, pelas mitologias e religiões, e outras mais, ainda ocultas. Por isso é tão importante lermos os mitos, conhecermos as religiões e aceitarmos a realidade que essas narrativas representam em nossa psique para que possa haver a integração dos dois lados em nossa alma. Precisamos entender que não são histórias inventadas por mentes primitivas, mas vivências internas trazidas para fora por uma necessidade de mantermos a saúde mental. Jung expressa isso em “Arquétipos do Inconsciente Coletivo”:
“A Humanidade sempre teve em abundância imagens poderosas que a protegiam magicamente contra as coisas abissais da alma, assustadoramente vivas. As figuras do inconsciente sempre foram expressas através dessas imagens protetoras e curativas e, assim, expelidas da psique para o espaço cósmico.” (O. C. Vol. IX – 1, § 21)
Para ele, as neuroses tinham origem em uma dissociação da psique diante de um sofrimento intolerável, que podia provocar o surgimento de um arquétipo de uma forma destrutiva, um arquétipo demoníaco. A dissociação entre o bem e o mal nos traz esse sofrimento.
Um exemplo disso foi apresentado em uma reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo de Televisão, e maio de 2003. A reportagem dizia, com alarde, que na Noruega vivia-se num país ideal, onde todos gostaríamos de viver. Nos dois anos anteriores, a Noruega havia conquistado o melhor IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, entre todos os países do mundo. Não existiam desempregados nem analfabetos, o nível financeiro da população era muito alto. Paz e prosperidade conquistadas com justiça econômica. O capitalismo norueguês, com forte base socialista, é centrado na distribuição dos benefícios da principal fonte de renda do país, o petróleo. Gente educada, que vive em harmonia, em Berguen, segunda maior cidade do país, com cerca de 225 mil habitantes, não havia assaltos e crime era coisa muito rara: média de um por ano e, em todo o país, nunca haviam chegado a cinquenta.
Os policiais noruegueses ganhavam o equivalente a 25 mil reais por mês para fazer quase nada. As pessoas que apareceram na reportagem, em suas casas ou andando pelas ruas, pareciam alegres e tranqüilas. Rico e com muito tempo livre, o norueguês viaja muito e aproveita várias outras formas de lazer.
Porém, ao final, a reportagem chamava a atenção para a taxa de suicídios que, segundo eles, de tão alta, é considerada um problema de saúde pública.     
As imagens mostradas pela televisão davam idéia de um país de sonhos, bons sonhos, e terminava como um grande pesadelo. Este exemplo mostra claramente como não suportamos abafar totalmente um dos lados da nossa natureza, pois o mundo é feito de opostos, tudo o que existe necessita do seu complemento, isto é uma verdade inquestionável. No entanto, não enxergamos essa realidade em nós e vivemos de forma capenga, escondendo a face que nos parece feia e fazendo de conta que ela não existe, até ao ponto de acreditarmos nisso. Temos bons exemplos na Literatura, vide Fausto, Dr. Jekyll e Mister Hyde e O Retrato de Dorian Gray. Tememos perder, diante do outro, a imagem de perfeição que nos é exigida pela nossa cultura e fechamos os olhos para essa realidade, que representa  a união cósmica, lindamente decantada pelo nosso “maluco beleza”, poeta e visionário, na última estrofe da sua canção “Trem das Sete”:
“Ói, olha o Mal, vem de braços e abraços com o Bem num romance astral. Amém” (Raul Seixas)
A conjunção amorosa dos opostos nos salva da destruição, pois começamos a nos entender, aceitar e paramos de projetar o mal no outro. Como comentou Jung ao referir-se à construção da bomba atômica:
“O homem passou a ser o pior inimigo do homem. É um choque entre o homem e Deus, em que o gênio luciferino do homem produziu na bomba H o poder de destruir mais eficientemente do que qualquer deus antigo. Devemos começar aprendendo a conhecer o homem até que cada Jekyll possa ver o seu Hyde.” (1977, Entrevistas e Encontros, pág. 227)
Que cada Jekyll possa ver o seu Hyde, que nossos anjos convivam em paz com nossos demônios, pois difícil é o caminho do meio, mas custa menos buscá-lo do que nos entregarmos à ilusão de que podemos viver uma “psicologia positiva” que alguns estão pregando atualmente. Segundo essa idéia, basta pensarmos só em coisas boas, que as más desaparecerão de nossa mente, como numa mágica, e tudo estará resolvido.
É verdade que ir ao encontro do Bem traz bons sentimentos, mas não destrói os maus sentimentos, não há como ignorá-los pensando que estamos livres deles, não podemos transformá-los em  inimigos e extirpá-los do nosso ser. Se observarmos com cuidado o que nos acontece a cada momento, veremos que Jung tinha razão.
Fausto, de Goethe (assinando o pacto com Mephisto)
O mundo não se tornará melhor sem melhorarmos a nós mesmos; não há como fazermos isso sem nos conhecermos e aceitarmos o que somos. O que somos vai além da consciência, e o inconsciente costuma ser, para a maioria, uma terra desconhecida, repleta de símbolos misteriosos, mas ricos de significados importantes para esse processo. Eles nos aparecem em nossos sonhos e imaginação, trazendo recados e muitas vezes, tentando nos orientar através de idéias intuitivas. Estes símbolos são, como diz Mircea Eliade (1991):
“Como a epifania de um mistério, nos trazem, dentro do possível, mensagens de nossa vida interior, necessárias para manter nosso equilíbrio psíquico, através de um maior conhecimento de nós mesmos.” (Imagens e Símbolos, págs. 8 e 9)
Companheiros do nosso processo de individuação, os símbolos representam os arquétipos e revelam a nossa sombra, no que ela contém de bom e de mau, de destrutivo ou de criativo, de tudo que pode nos fazer crescer e despertar, cada vez mais, para uma vida plena.
É um despertar sofrido. O mal nos assusta, as religiões cristãs dizem que devemos nos afastar dele, mas, ao nos depararmos com uma situação igual à da Noruega, nos assustamos com o bem e chegamos à conclusão de que o bem em excesso pode trazer o mal. Isto vai contra tudo que aprendemos e deveria nos fazer pensar: O que significa esse paradoxo? Nesse momento perceberíamos o absurdo de negarmos a totalidade, ao  crermos num Deus totalmente Bom, o Summum Bonum (o Bem Supremo). Todo exagero leva ao exagero oposto, esta é a lei da enantiodromia (da qual falava Heráclito), ou no popular, como costumava dizer uma tia-afim muito querida: “Tudo de mais é veneno...”
  Fazendo constantemente a ressalva de que sua visão não era religiosa, e repetindo que era apenas um médico, psicólogo e empirista, Jung defendia a idéia de que as religiões nos ajudam a vivenciar os arquétipos mais importantes que povoam nossa psique, plenos de significados para nossa vida. Na sua obra sobre a “Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade”, ele disse que as religiões se achavam tão próximas da alma humana, com tudo quanto elas são e exprimem, que a psicologia não poderia jamais ignorá-las. Jung confirma essa idéia  na afirmação em que inicia citando uma frase do Evangelho:
“Tudo está aí:”O Reino dos Céus está dentro de vós”, esta é uma grande verdade psicológica. O cristianismo é um belo sistema de psicoterapia. Cura o sofrimento da alma!” (1977, Entrevistas e Encontros, pág. 82).

  Para a Psicologia Analítica, não há desenvolvimento pessoal ou individuação sem aceitarmos a sombra, se não encaramos o material que permanece inconsciente, este pode tornar-se um monstro, um inimigo invisível que suga a energia do ego. O que permanece no inconsciente jamais se modifica. Segundo Jung, as correções psicológicas são apenas possíveis no nível da consciência. Como disse Hilman(James.Re-Visioning Psychology): "O Homem existe dentro da Psique ... não ao contrário ... e muito da Psique estende-se além da natureza humana”
Portanto, a busca precisa ser interna para encontrar o amor pelo nosso eu total. Esta não é uma atitude egoísta, mas um aprendizado de auto-aceitação, de nos vermos como íntegros, inteiros. Aceitar a unidade é o início do amor por toda criação, o amor pela vida. É uma forma de dar graças aos céus por participarmos dessa existência cósmica,  reconhecendo a sacralidade do existir, do estar aqui e agora, seja como for, e percebermos que estivemos e vamos estar sempre ligados apesar das diferenças. Somos vários, diversos mas estamos unidos ao Todo, a Deus, ao Centro ou ao Self, seja qual for o nome que se dê ao princípio sagrado, a essa Fonte Criadora.
Por isso Jung conclamava: “Devemos integrar nossa sombra”. Mas esta não é uma tarefa fácil para ninguém. Ao encarar a sombra, mesmo sendo uma viagem ao inconsciente pessoal, não sabemos até onde podemos ir. O limite entre o inconsciente pessoal e o coletivo depende do nosso estado d’ alma e transpor esse limite pode significar a perda da nossa sanidade mental. Diante disso, há que respeitar e cultuar o mistério, pois a única certeza possível nesta vida é que toda ela é um Grande Mistério.
As pessoas que pensam, meditam e se preocupam com a existência do mundo tendem a chegar a essa conclusão. A diferença que pode haver entre essas pessoas é de que algumas imaginam que nossa razão, sozinha, poderá um dia desvelar esse mistério enquanto outras sabem que o mistério encontra-se muito além do horizonte racional. Trata-se de um Misterium Tremendum, como dizia Jung, encontra-se no reino do numinoso, um arquétipo com poder esmagador e irresistível, que Whitmont definiu como: “um impacto energético e oracular de manifestação divina.”  Tendo acesso a ele poderíamos, quem sabe, encontrar as respostas às perguntas que nos angustiam. Mas sua visão é devastadora, pode nos levar à inflação do ego, a imaginarmos que somos como deuses e, conseqüentemente, a sermos dominados pelos poderes da Luz e das Trevas. Luz e Trevas, duas poderosas energias complementares que, se unimos com forças amorosas, representam a totalidade, contendo o Bem e o Mal. Ao agirmos assim, veremos nelas duas faces de uma mesma realidade divina na qual estamos inseridos, da qual fazemos parte.
Está no Velho Testamento:
 IS 45,5-7: “Eu sou Iahweh e não há nenhum outro...Eu formo a Luz e crio as Trevas, asseguro o bem-estar e crio a desgraça: sim, eu, Iahweh, faço tudo isto;” ou IS 54,16: “Sabe que fui quem criou o ferreiro que sopra as brasas no fogo e tira delas o instrumento para o seu uso; também fui eu quem criou o exterminador, com a sua função de criar ruínas.”

Rosa Carmen

PS:  Esse texto foi baseado em uma parte da minha Monografia do final do Curso da Pós-graduação em Psicologia Junguiana do IBMR, no ano de 2003.




terça-feira, 27 de março de 2012

NO PALCO DA NOSSA VIDA


DESTINO 
Em homenagem ao Dia Mundial do Teatro!

Só pensamos no destino
e sentimos seu pesar,
quando, sem ser convidado,
ele bate à nossa porta,
de uma forma atrevida,
sem sequer pedir licença,
na hora em que quer entrar
no palco da nossa vida.

Deita e rola no tapete
Que enfeita o chão de madeira,
Rindo dessa base falsa,
Só de pura brincadeira.

No sofá acolchoado
Senta como um rei no trono
E busca com olhar velado
Um sinal de alegria
Da nossa felicidade
Da qual já se sente dono.

Sobe na mesa do canto
Que apóia os nossos sonhos
E derruba o abajur
Que nos traz a claridade,
Escurecendo as paredes
Dos quadros onde pintamos
Projetos, anseios, afetos
Encontros e amizades.

Na lareira crepitante,
Cheia de fogo e energia,
O coração e o centro,
De amor, encanto e magia,
Ele chega e sem piedade,
Joga um balde de água fria.

Ao passar perto da escada
Que leva preces aos céus,
Bate no jarro de flores
Onde plantamos os amores,
Cultivamos ilusões
Que se desfazem ao léu.

Fecha e prende a cortina
Que cobre o vão da janela,
De onde se avista o futuro
E a fortuna se revela
E deixa tudo no escuro
Nos tirando a visão dela.
E ao sair de mansinho,
Para não incomodar,
Nos faz um leve carinho,
Como se fora um carrasco,
Que se fazendo de amigo,
Trouxe tristeza e castigo.

Nesse instante percebemos
Que existe um destino
Amigo ou não, ele chega
Com seu jeito disfarçado 
E num louco desatino
Muda tudo ao nosso lado
É como um deus implacável,
Que nos pune e não perdoa
Desarruma nossa casa,
Queima nossas fantasias
E nos deixa assim a toa,
Diante do seu poder.

Mas, se esse mesmo destino,
De ouro e flor adornado
Chegar como um Deus Menino,
Trazendo como legado
A esperança que a vida
Não depende desse fado

Não veremos nossa história
Com desânimo e temor,
Mas numa nova visão
De confiança e coragem
Que o trabalho a cumprir
Com amor no coração,
Nos torna os construtores
Os donos da nova imagem
Que ao invés de nos ferir
Traz a nossa salvação.

Rosa Carmen

sexta-feira, 23 de março de 2012

UM CONTO DE FADA NO COSMOS

A BELA ADORMECIDA (Versão dos irmãos Grimm)

      Tomo hoje a liberdade para fazer aqui uma leitura simplificada deste conto conhecido, fazendo uma analogia astrológica, com nuances da Psicologia Analítica.
        Quaisquer críticas e ajustes serão bem-vindos.


        É bom antes ressaltar que a palavra fada vem de fado, portanto, significa destino.

        Um Rei e uma Rainha (realização da união dos opostos masculino/feminino) desejavam ardentemente ter um filho (a pedra filosofal) conclusão do processo de individuação. Ao conseguirem ter uma filha, resolvem dar uma festa no reino (o mapa astral), no dia do batismo da criança, ritual de purificação que ajuda na integração da personalidade (representa a leitura do mapa na busca do autoconhecimento).

        Existiam treze fadas no reino, mas eles só convidaram doze delas (os doze signos), porque só existiam doze pratos de ouro (as doze casas astrais) para servi-las. Cada uma das doze fadas chamadas, doaram à criança, como presente, qualidades especiais e bons auspícios... beleza, inteligência, bondade, honestidade, amor, sucesso, felicidade... preenchendo com isso as doze casas de seu mapa. Mas, segundo esse conto, a décima - terceira fada (o lado sombrio da princesa), ofendida por ter sido ignorada, interrompeu a festa e, por vingança, lançou uma maldição contra a criança, dizendo que esta, aos 15 anos de idade, furaria um dedo numa roca e morreria. Como faltava ainda o presente da 12ª fada, esta amenizou o vaticínio da outra, e nesse caso a princesa cairia num sono profundo por cem anos, juntamente com todos do reino. Só poderia ser despertada por um beijo proveniente de um amor verdadeiro (aceitação e união das dualidades).

        Diante desse vaticínio, os pais da menina, querendo proteger a filha da má sorte, proibiram qualquer tipo de roca no reino e todas as pessoas  do reino a vigiaram o tempo todo (essas pessoas representam os planetas, nossas forças que nos apóiam, por um lado e, por outro lado, os complexos que nos deixam fragilizados pelo medo de enfrentar o mundo). No entanto, na época citada, a fada má, aproveitando-se da ingenuidade da princesa (falta de conhecimento de si mesma, e portanto, do perigo), consegue fazê-la usar o objeto proibido e cumprir a maldição, adormecendo profundamente, assim como todos do reino. 

        Com o passar do tempo cresceu ao redor do castelo uma densa  floresta de urzes (a sombra do reino), uma planta cheia de espinhos, isolando-o do mundo exterior. O espinho da planta era fatal e muitos príncipes morreram em busca da princesa. Passados os cem anos, um príncipe mais corajoso enfrentou os perigos da floresta e conseguiu chegar até a princesa, acordando-a com um beijo de amor. E todo o reino despertou!

        Isto é o que costuma acontecer conosco, nosso ego nos cega e nos controla, funciona como o casal real, querendo negar a nossa sombra, impedindo que vivamos com plenitude nosso caminho terrestre, sem nos conscientizarmos dos perigos que nos rondam, mais em nosso interior do que lá fora. A sombra negligenciada, costuma se vingar, por isso precisamos ser amigos dela. O príncipe representa o despertar da nossa consciência quando, enfim, conhecemos melhor nosso lado sombrio, nos reconciliamos com ele e aprendemos a usar bem todos os nossos talentos e as melhores qualidades que nos foram generosamente doadas. Ele, o príncipe, faz o caminho do herói, luta e se arrisca para encontrar a Pedra Filosofal , realiza a conjunção com ela, atinge o equilíbrio perfeito e salva o Reino. 
         Os signos e planetas funcionam como planos de energia cósmica, representam forças poderosas que atuam em campos opostos em nosso interior. Como tudo no nosso mundo, eles são feitos de polaridades (dia/noite, claro/escuro, bem/mal).
        Portanto, conseguimos evoluir quando descobrimos como usar equilibradamente essas energias, integrar as dualidades e conciliar todos os paradoxos da existência.

        O final da história mostra que a salvação para um destino cruel encontra-se num ato de coragem e amor. Amor, o maior e mais forte elo de união em nossas vidas.

        Pelo menos, devemos tentar...

        E nem sempre dá para esperarmos 100 anos!!!


Rosa Carmen 

quarta-feira, 21 de março de 2012

OUTONO

Onde te encontras, Outono da minha terra?
Onde as folhas levadas pelo vento,
Cobrindo o solo de dourado manto?
Saudade de ti, Ó nova estação!
Onde o ar que refresca e acalma as flores?
Que falta faz que chegues mais intensa,
Mostrando teus encantos,
Apagando de vez o fogo do verão
Com a tépida brisa, com vontade imensa
De viver o teu plácido momento.
Afasta de mim essa nostalgia
Ameniza o calor do Sol,
E a velha estação encerra
Venham a nós tuas belas paisagens
E o frescor dos teus suaves dias...
Outono da minha terra...

 Rosa Carmen

terça-feira, 20 de março de 2012

ASTROLOGIA, AUTOCONHECIMENTO E EVOLUÇÃO


Em homenagem ao Equinócio do Outono

 “Tudo o que nasce ou é feito neste momento, possui as qualidades deste momento. Nós nascemos em dado momento, num lugar determinado e temos,  como os vinhos famosos, as qualidades do ano da colheita e da estação que nos viu nascer. Nada mais que isso pretende a Astrologia.” (Carl Gustav Jung)
A Astrologia é um estudo sobre os signos do Zodíaco, os corpos celestes e a relação deles com o Homem, no qual analisamos e avaliamos todo o sentido e o potencial da natureza humana. Colocamos neles (astros e signos) todas as “virtudes” e “defeitos”, crenças e valores, dores e alegrias que encontramos em nós mesmos e, alem disso, cremos que possuem condições de influenciarem nossas vidas. A Astrologia  simplesmente fala de nós, de tudo o que somos e vivemos a cada dia, sem máscaras, e de todos os sentimentos e emoções que povoam nosso íntimo. Descreve a vida do ser humano por inteiro.
Quando descrevemos os signos, os planetas, as representações astrológicas, estamos o tempo todo nos referindo a símbolos  que representam os arquétipos de nossas vidas (nascimento, morte, pai, mãe, casamento, filhos...etc.). A Astrologia foi  nascendo com o surgimento da consciência humana, desde que o homem começou a perceber o que acontecia em seu entorno e a olhar com mais atenção para o firmamento. Assim como os mitos e as religiões, surgiu da necessidade do ser humano de trazer para fora seu mundo interno, extremamente denso, muitas vezes confuso, assustador e de difícil compreensão, mas de uma riqueza imensa, onde coexistem a escuridão e a luz. Portanto, a Astrologia é um sistema simbólico, com base nas mitologias criadas por cada povo do nosso planeta e que busca analisar a influência que as energias emanadas pelos corpos celestes podem exercer sobre a Terra e os indivíduos de todas as espécies.
O principal é percebermos que essas “energias” estão dentro de nós e os planetas e signos são  apenas “representações” delas, não é por acaso que foram dados nomes de “deuses” da mitologia para os astros. Para os homens das épocas mais antigas, os deuses possuíam qualidades humanas.
C. G. Jung disse, sobre o ponto de vista psicológico: “A Astrologia é uma experiência primordial como a Alquimia, a humanidade descobria as dominantes do inconsciente, os “deuses”, bem como as estranhas qualidades psicológicas do Zodíaco – uma teoria completa e projetada do caráter”. (Psicologia e Alquimia;pr.346).
Apesar de vir se desenvolvendo há milhares de anos através de estudos e pesquisas realizados por pessoas muito sérias, a Astrologia não é aceita por muita gente que ainda duvida de sua eficácia. No entanto ela representou o princípio dos estudos astronômicos. Até há poucos séculos atrás  confundia-se com a Astronomia, muitos astrônomos  eram astrólogos. Mas, com o desenvolvimento da ciência e o excesso e domínio do racionalismo, foi se afastando dos outros ramos do conhecimento e passou a ser considerada, pelos cientistas, um conhecimento “menor”,  superstição, coisa de magos, bruxos, feiticeiros.
Desde seu início a astrologia tem sido vista, principalmente, como fazendo parte das artes divinatórias, como uma Mancia (do grego Manteia) que significa adivinhação. Prever é muito difícil, pois são várias as possibilidades e muitas dependem de nossas ações. Esse conhecimento milenar possui um sentido bem mais amplo e não deve ser visto como uma forma de predição do futuro, porém como um recurso a mais da  busca de uma maior compreensão da nossa natureza real e mais profunda. Dessa forma, sem dúvida, poderá nos ajudar, dando-nos a indicação dos recursos que possuímos para enfrentarmos, com entendimento e confiança, as dificuldades que se apresentam em nossas vidas, como também para aproveitarmos melhor as facilidades que nem sempre percebemos. Pode ser um caminho a mais de descobertas e libertação de sofrimentos inúteis.
É claro que não temos condições de vivermos nem de realizamos todos os aspectos contidos em nosso mapa, por isso, ao interpretar um mapa astral, deve-se dizer sempre “pode ser”, mas é bom sabermos que possuímos todas as potencialidades que o mapa indica, todas elas estão ao nosso dispor, conhecendo-as podemos tentar realizar mudanças através de boas e positivas transformações. Não quer dizer que seja fácil, mas é um caminho a mais, além de outros possíveis. Caminhar por essas vias também precisa, como por outras, da nossa plena vontade, muita sinceridade conosco mesmos e muita coragem para enfrentarmos nossas sombras (que têm de tudo, inclusive um lado criativo e bonito).
Conseguirmos concretizar essas possibilidades nos remete à frase de Dante Alighieri: “Ao colocar-se em harmonia com o Cosmos, o sábio é o Senhor do seu destino”  
E esse ganho não vale só para o autoconhecimento. Através da leitura dos mapas temos a oportunidade de entendermos as outras pessoas e aceitá-las melhor, evitando julgamentos e preconceitos. Quando vemos a diversidade entre os signos, compreendemos as diferenças entre nós com mais facilidade, e sentimos que não podemos exigir que todas as pessoas pensem, entendam, percebam, sintam, ajam e reajam da mesmo modo. Como escolhermos e definirmos qual é a melhor forma de ser para todos?  Naturalmente, não estamos aqui nos referindo ao caráter, à  moral e aos valores éticos necessários ao bom funcionamento de uma sociedade, falamos de temperamentos, de maneiras de ser.
Todos os mapas possuem todos os signos e todos os planetas, retratando a natureza humana. Diante disso, temos condições de fazer da nossa jornada a melhor possível, se assim quisermos. Entretanto, algumas pessoas, sem dúvida, se mostram mais aptas e conseguem mais do que outras. A única explicação seria o desenvolvimento espiritual que cada um já traz ao nascer, e sobre esse assunto os astros não indicam nem explicam, podemos apenas imaginar e acreditar que já chegamos com algum preparo, que não nascemos, como disse Aristóteles, qual uma "Tabula rasa". Tudo isso faz parte dos mistérios que circundam a existência do Universo. Para muitos, essa conclusão pode parecer irracional, mas, não esqueçamos que todo cientista inicia suas buscas acreditando na existência do desconhecido, daquilo que parecia impossível. Portanto, diante do milagre que representa a Vida (até hoje, racionalmente inexplicável), podemos  afirmar “Credum quia absurdum.” (“Creio porque absurdo”,  frase de Tertuliano, nascido em Cartago, 160-220 DC).
Acreditando que tudo o que existe constitui uma unidade e que todas as energias estão ligadas e interagindo entre si, não há como negar as influências, não só dos astros, mas de tudo sobre tudo em nosso Universo. Além dessa visão, que está de acordo com os princípios da física moderna, é possível constatarmos que a humanidade tem condições de evoluir muito além da matéria física. Percebermos o valor e a necessidade desse movimento evolutivo, que diz respeito ao nosso espírito, e desejarmos ampliá-lo, é trabalharmos pelo que há de mais precioso em nossa natureza.Todos os esforços serão pouco para ajudarmos nesse processo, um deles é procurarmos conhecer melhor a nós mesmos e entendermos melhor o nosso próximo. Na busca desse objetivo, a Astrologia será sempre um instrumento valioso.

Boa Sorte para todos!

Rosa Carmen

domingo, 11 de março de 2012

O DEUS EM NÓS

 UMA VISÃO JUNGUIANA

O mesmo Deus que acalma, te atormenta.
Aquele que equilibra, te atordoa.
O que te dá abrigo, te dispensa...
Aquele que castiga, te perdoa.

Por isso, amigo, não ignore
O Deus que te acompanha...
Ele te traz a paz, mesmo na luta...
O que te faz perder é o que tu ganhas...
Vem de ti para ti, qual força bruta...

Com Ele chega a alegria,
Seu êxtase desperta a dor...
Mas na hora do cansaço
Encontras o Seu abraço...
E vindo dele a tristeza,
Nunca falta Seu amor. 

Ele é o Guia e o Norte em tua lida
E se a sorte parecer perdida,
Ele transforma a morte em nova vida...

Paz e Luz

Rosa Carmen

sábado, 10 de março de 2012

O QUE É SER NORMAL?


  “Ah, quem dera a perfeita concordância
   De mim comigo,
   O silêncio interior sem a distância
   Entre mim e o que eu digo.”
                   (Fernando Pessoa)

   Há algumas pessoas que gostam de dizer, orgulhosamente, que não são normais, como se esta fosse uma qualidade que as valorizasse em relação às demais. Mas o que é ser normal, o que significa exatamente esse estado de ser? No dicionário Aurélio lê-se: “O que está de acordo com as normas; natural.” 

   Antes precisamos explicar que, ao falarmos aqui 
de ações em desacordo com as normasnão estamos nos referindo às pessoas que agem contra as leis, a moral ou a ética. Se fosse isso, não haveria nada a comentar, pois seriam, simplesmente, ações de delinquentes, amorais ou anti-éticos. Esse não é o caso, pois, tenho escutado muito esse  discurso contra a normalidade vindo de pessoas boas e corretas em suas atitudes e de bom comportamento social.

   Vamos ao segundo significado de normal: “Natural”.

   Acho ótima essa definição, segundo ela, ser natural seria vivermos de acordo com o que verdadeiramente somos, com nossos gostos, nosso estilo, valorizando nossa forma de pensar, de sentir e de agir, apreciando nossas crenças e valores, sem precisarmos nos comparar a ninguém. É sermos seguros e gostarmos do que somos, sem que, por isso, precisemos ser contra ou menosprezemos outras maneiras de ser. 

   Quando nos aceitamos bem, não ficamos preocupados em parecermos diferentes dos outros, pois já o somos. Sob esse ponto de vista, ser fora do normal é ser fora do natural, não é ser diferente da maioria, é ser diferente de si mesmo. Quando somos o que realmente queremos e escolhemos não é necessário dizer que somos isto ou aquilo, basta sermos, isto é, quando vivemos em perfeita concordância com nossa própria natureza, podemos ser e nos considerar, com todo orgulho, “naturalmente diferentes... e diferentemente normais...

Rosa Carmen

sexta-feira, 9 de março de 2012

O CÉU DE HOJE


Amigos,

Hoje fujam das brigas, pois temos Lua em Libra, discutindo quem sabe mais com Mercúrio e Urano em Áries e, sentindo-se desprezada, está muito  zangada com Plutão em Capricórnio...prestem atenção nos pensamentos persecutórios e evitem intrigas...Marte em Virgem sente-se incomodado com a Luz do Sol em Peixes, que em nada lhe seduz, só lhe traz raiva, febre e inflamação...mas, nem por isso se queixem nem fiquem preocupados, procurem inspiração em Júpiter e Vênus que curtem, ainda, uma paixão em Touro. Apoiados por Plutão, a relação entre eles continua agradável, protetora e generosa, ajudando a transformar e melhorar cada dia. Nessa dança colorida dos astros em nosso céu, apesar das amarguras que podem nos afetar, escolham bem as energias daqueles que, nos seus rastros, promovem a união e trazem pra nossas vidas afeto e alegria, e um doce gosto de mel...

BOM DIA!

Rosa Carmen

quinta-feira, 8 de março de 2012

HOJE É NOSSO DIA!


   Hoje despertei animada, o amado companheiro de toda uma vida me acordou dizendo:parabéns querida, hoje é o Dia Internacional da Mulher! Fiquei toda sorrisos (coisas de esposa apaixonada...). Lá fora muito sol, céu azul, passarinhos cantando na varanda, um dia lindo, feito pra se curtir e festejar. Começamos a dividir nossa tarefa de preparar o desjejum, Ivan faz um café divino, fica sempre por conta dele...arrumo a mesa, corto as frutas, côo o suco... Após o café, começo a arrumar a casa para receber a diarista que vem faxinar a casa, o escritório está um horror de bagunçado, além de duas mesas, um computador, um laptop, tem muito livro, papel e outras quinquilharias espalhados por tudo quanto é canto, e a sala não está muito melhor. Isso me lembrou uns quadrinhos antiqüíssimos do Pato Donald com a Margarida em que ele a encontrava limpando a casa toda e perguntava porque estava fazendo isso, pois era dia de vir a faxineira, e ela respondia que não podia deixar que a moça visse a casa dela suja e bagunçada e pudesse contar para toda a vizinhança (coisas de dona de casa...)! Enquanto isso, nossa diarista me fala de problemas familiares e converso com ela dando uma força (coisas de patroa solidária...). Um dos nossos filhos liga do trabalho pra pedir que eu vá à casa dele (é perto da nossa) ver se chegou o bombeiro que está fazendo um serviço por lá e se o pai pode ir comprar o material que ele não teve tempo. Vou e volto para continuar a ajudar na arrumação da casa. Antes liguei também para minha filha pra perguntar como ela e meu genro estão (coisas de mãe...).  Preciso ligar para umas pessoas do Grupo de Astrologia da CPP pra confirmar que não haverá aula hoje à noite; no mesmo horário, temos uma missa muito especial para ir (coisas de professora responsável...). Minha cunhada me liga e conta suas preocupações no trabalho, ouço e apoio (coisas de amiga...). Lembro ao Ivan que precisamos pegar o remédio homeopático pra garganta, que ele mandou fazer, tenho que ir também porque não dá pra parar o carro no local (coisas de companheira...).
Ao voltarmos da farmácia, sem sentir já passou mais da metade do dia. Estive tão ocupada que nem entrei ainda no Facebook. Agora lembrei que tinha algo para festejar hoje com minhas amigas e de repente, me dei conta que esse festejo faz parte de todos os dias de nossas vidas... Participamos dele com disposição, às vezes alegre, outras nem tanto, mas com muita vontade, empenho e carinho, cada uma ao seu modo... doando, recebendo, elogiando, brigando, acalmando, trabalhando, cuidando, amando, estamos sempre festejando cada momento, mesmo quando falamos demais, reclamamos, cobramos e, magoadas por coisas mínimas, por quase nada, choramos... e isso não quer dizer que estamos infelizes, não mesmo, meus amigos e amigas, essas são apenas COISAS DE MULHER...!

Muita alegria, paz e amor para todas nós...

Rosa Carmen